O despertar da Cinderela
O
fuscão 68, o companheiro inseparável, que
herdou
de seu tio solteirão. Aos dezoito anos era um dos poucos de sua
turma que possuía
um veículo. Afinal, ainda estava no terceiro ano ensino médio.
Nunca fora popular entre os colegas, mas agora tudo mudou.
A carteira de habilitação estalando de nova nas mãos, foi
inevitável sentir um furor, porque não dizer um orgasmo, tudo
seria diferente. Não mais,
o último a ser escolhido para completar o time, a partir de então
era ele quem escolhia, era o dono da bola. Quantas meninas que antes
não lhe davam um bom dia, passaram a sorrir lhe todos os instantes,
os bilhetes eram constantes, uma chuva deles durante as aulas. A sorte
lhe sorria.
Um adeus bem rápido aos pais, mochila,
óculos e a carta de alforria. Todo lindo a sua espera o fuscão,
brilhando de limpo. Abriu a porta, ajustou o banco e o espelho
retrovisor, chave na ignição, medo, lágrimas. A expectativa, o
silêncio, por fim, o carro ligara. Soou como um velho tisso,
engasgou, desligou. Medo, coração, chave gira a ignição. Mais uma
tentativa, a Cinderela despertara. Era sua vez de desfilar pelas
estradas emburacadas da cidadezinha onde nasci.
Beleza de crônica, Lu! Obrigado.
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