Com que roupa ...
Muito tem se falado sobre a novela, Velho Chico, promessa
de sucesso, elenco escolhido a dedo, fotografia perfeita,... e por aí vai. Hoje
não sou mais a "noveleira" de antes, confesso sem nenhuma vergonha.
Atualmente as tramas perderam bons roteiristas, o que eu vejo são
algumas pequenas tentativas de resistência do bom "discurso", mas
isso é uma outra história, pois, o quero compartilhar é uma pequena
reflexão sobre a atual novela das oito.
O título faz direta alusão ao Rio São Francisco, mostra a
intimidade entre os povos que são banhados por ele. No entanto, eu
quero me ater é no figurino, que é totalmente descontextualizado em todas as
épocas referidas. Procurei rapidamente na internet sobre isso, pelo menos nos
poucos artigos que encontrei alguns teciam longos elogios e outros só apontavam
esta falta de sincronia entre a época referida e o vestuário (sem contar
em alguns objetos, tais como carro, telefone,...) e só. Mas até então, pelo que
eu saiba, não se observou que essa caracterização da vestimenta com
uma mostra de crítica velada e não menos preconceituosa com os
nordestinos.
Reforça que o nordeste, e, por conseguinte com os
nordestinos como um povo atrasado, reforçando os estereótipos. Por exemplo,
quando mostrou "Brasília" na década de 70 os personagens de Rafael
Vitti está adequadamente vestido em sintonia com a década referida, já a
personagem Maria Tereza "estilizada" de coronel do início do século
XIX, fora isso, as estudantes do convento pareciam serem retirada das
"Três Marias" de Raquel de Queiroz que ambientado na década de
30.
Quando eu vejo o trato dado à novela “Liberdade, liberdade”
percebo o cuidado com toda as pequenas coisas, é lógico que o falar não é
exatamente igual, porque senão teríamos dificuldades para entendê-lo, no
entanto a vestimenta é de acordo com a época citada, por que não ocorre o mesmo
em Velho Chico? Alguns podem defender a ideia que aquele é uma "história
verídica" e este é "uma obra de ficção", mas isso não justifica
seria muito mais digno e elogioso como a novela das oito preconiza, falar do
Velho Chico sem utilizar as ferramentas do preconceito para diminuir as
pessoas, descaracterizar a importância de uma região, o Brasil é plural em sua
constituição de povo, é multi na variação dos seus falares, é miscigenado,
é crioulo, é mulato, é cabo-verde, é pardo,... é antropofágico.
O vestuário não é só para cobrir a pele dos personagens,
ele caracteriza “tipos” sociais, tipos
de personalidades, ajuda a construir a imagem do personagem, logo, essa falta
de sincronia existente não é algo inocente, trata-se de uma maneira “velada” e
preconceituosa de situar um povo.
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