Bota fora

Ela escolheu a segunda sexta-feira do ano para botar  a papelada em ordem. Acordou disposta a tudo, jurou que não ia salvar nada. Pegou os papéis aninhados nas caixas que reaproveitou da última mudança. 
No primeiro ato deparou-se com uma cartinha do filho aos 6 anos de idade, que escreveu em letras garrafais "MELHOR MAMÃE DO BUNDO, BETO" - sim, Beto tinha problema de disgrafia e dislalia  - Este probleminha deu muito trabalho para "consertar" muita terapia, fonoaudiólogo... Inclusive quando ele fica nervoso troca tudo, fala um idioma que ninguém entende. Mas como se desfazer de tão doce lembrança,  ela ficou com dó e guardou. 
A seguir encontrou umas cartas que ela escreveu quando passou férias em Olinda, com apenas 16 anos. Era semana de Carnaval subindo e descendo as ladeiras incansávelmente, tinha energia para dá e vender, foi lá que fumou o primeiro cigarro, um vício que perdura até hoje. Já iniciou vários tratamentos, parava por algum tempo e depois voltava, sabe aquele relacionamento "ioió", porque quando percebia o ganho de peso voltava a fumar, ou quando bebia aquela cervejinha gelada com os amigos tinha que fumar,... várias e várias desculpas hoje só tem um pulmão, dentes amarelados e uma tosse de cachorro. Então as cartinhas ficaram para lembrar dos tempos de ouro.
Na próxima caixa encontrou fotos do tempo de criança. Estas fotos familiares sempre tinham a ponta do dedo do pai, que achava que era fotografo - ele comprou uma "Minolta Autocard" usada - registrou muitos momentos de alegria e algumas tristezas. Como poderia se desfazer de daquelas raridades, logo organizou-as na em outra caixa.
A organização que começou pela manhã e acabou ao final da tarde, foi uma viagem no tempo, jogou fora pouca coisa e sentiu que não estava pronta para esquecer o passado.




Comentários

  1. Difícil jogar fora nossas memórias, mesmo as mais dolorosas persistem em permanecer...e as boas colocam sempre um sorriso nos lábios.

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