Ao devotado amigo

Devotado amigo, 

hoje não quero mais viver. Prefiro a companhia dos decrépitos vermes aos "bons amigos" que eu possa ter. Da vida nada usufrui. Tudo o que adquiri coube numa valise de mão. Filhos, eu acho que não os tive, não suporto choro de criança, aliás, confesso preferia ter nascido adulto, que fase desgastante  é essa da infância e juventude. Sobre o amor, prefiro adiar esse assunto, porque acho que eu nunca fui capaz de descobrir o que é um amor no "duro". Lembro-me vagamente de Constância, loura, bilíngue, organizada e acima de tudo boa de cama.
Pois bem, meu amigo, eu não sei se devo ser tão sincero, além disso, desfrutaste comigo alguns momentos, que por assim dizer,  foram os mais belos  Vivíamos regados à cerveja outras vezes vinho. Farras intermináveis, madrugada a fora. Lembra-se do Pedro Ernesto, o musico deprimido? Pois é, enforcou-se com as cordas da viola. Dizem que foi por causa do seu amor secreto por Rodrigo, outros afirmam que foi por causa de sua irmã gostosa. Ah! Adelaide, que mulher fogosa, um dia ficamos a tarde inteira no rala e rola.
Mas basta de balela contigo, estou muito cansado, viver do passado, não é bem comigo. Deixo para meus sobrinhos alguns trocados, para a minha irmã fica o carro velho e para você todos os meus preciosos cadernos, a câmera Canon EF 50mm f/1.0 L USM com o estojo das “lentes dos sonhos”, produzia um bokeh hiper surreal.
Sem mais delongas, encerro essa missiva. O cano já está na boca, só falta apertar o gatilho.
Ah! Não posso esquecer o pequeno Xandi na verdade não é teu filho.


Péricles 

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